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01 Escorpionismo Sazonalidade 02 Sazonalidade por região 03 Treino Logística Reversa 04 Taxa de Cobertura 05 Dengue 06 Animais Peçonhentos BR 07 Sal. Controlador 2024 08 Leptospirose 2024 09 PCOs por Região 2025 10 Febre Maculosa BR 11 BR PIB x REGIÃO, 13-22 12 Escorpião
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Destaque, Ano, 2025
Escorpião, Brasil 2015 a 2024 
Os números indicam que o que está sendo feito é necessário, porém não está sendo suficiente. A boa notícia é que no Brasil temos instituições e profissionais de controle de pragas para contribuir com o tema.
Nos últimos 20 anos, os acidentes com escorpiões em áreas urbanas, especialmente envolvendo crianças pequenas, têm gerado preocupação e discussões. Dado esta realidade, podemos afirmar que o que está sendo feito ainda não é suficiente para conter a dispersão da infestação e reduzir o número de acidentes com os habitantes das áreas infestadas.
Este relatório visa entender e analisar os dados de acidentes escorpiônicos nos últimos anos, além de discutir aspectos do controle dessa espécie e estratégias adotadas.bem como a proliferação de informações equivocadas e sem comprovação científica.
ACIDENTES ESCORPIÔNICOS NO BRASIL
Antes de abordar estatísticas, é importante entender a dinâmica da vigilância desse tipo de acidente, sua notificação, consolidação e reporte. Todas as unidades de saúde do país são obrigadas a reportar ao SINAN (Sistema de Informação de Agravos de Notificação) uma série de doenças e agravos, incluindo acidentes por animais peçonhentos. Existem formulários para o reporte desses casos, que incluem acidentes com cobras, aranhas, lacraias, abelhas, lagartas, águas vivas e escorpiões. Contudo, existem eventos que não são reportados e são chamados de subnotificação.
Existem regiões onde apenas os casos mais graves de acidentes escorpiônicos são reportados, devido à baixa toxicidade do veneno de algumas espécies e à boa saúde do acidentado adulto, que muitas vezes opta por tratamento sintomático em vez de buscar uma unidade de saúde. Desde 2013, o número de acidentes escorpiônicos supera a soma dos demais acidentes com animais peçonhentos, evidenciando a influencia positiva do crescimento das zonas urbanas, redução na cobertura vegetal nativa e a colonização de novos territórios pelos escorpiões.
O último Boletim Epidemiológico sobre escorpionismo, publicado pelo Ministério da Saúde em novembro de 2024 (Vol. 55, n⁰ 03), reporta 183.738 acidentes escorpiônicos com 92 óbitos em 2022, principalmente em áreas urbanas. A predominância de acidentes ocorre nas regiões Sudeste e Nordeste, com os estados de São Paulo, Minas Gerais e Bahia somando 98.849 casos, oque representa quase 54% do total. Essa concentração de casos é visível na ilustração de distribuição de casos publicada no último Boletim Epidemiológico.
Vale ressaltar que o número de acidentes escorpiônicos tem crescido na Região Sul, sendo que a ocorrência da espécie T. serrulatus nessa região é mais recente. Outro dado interessante é que a maioria dos acidentes notificados ocorre no segundo semestre de cada ano, entre agosto e outubro, devido ao aumento das temperaturas e à ausência de chuvas após o inverno.
Entre as espécies de escorpiões de importância médica no Brasil, duas ocorrem com maior frequência em ambiente urbano: Tityus stigmurus e Tityus serrulatus. Ambas se reproduzem por partenogênese (reprodução assexuada em que um ser vivo se desenvolve a partir de um gameta feminino não fecundado), sendo a última responsável pela maioria dos acidentes fatais. Estas espécies não têm um período reprodutivo específico e ocupam nichos nas áreas urbanas com abundância de presas, como sistemas de esgotos e cemitérios, facilitando sua dispersão para novas áreas. Seu período de atividade predominantemente noturno, somado ao hábito de permanecer reclusos durante o dia e à capacidade de sobreviver semanas sem se alimentar, favorecem seu transporte passivo junto as cargas como hortaliças e frutas.
Ao ampliar a amostragem de notificações de acidentes escorpiônicos, incluindo os dados oficiais desde 2000, é possível enxergar a tendência e evolução dos números e comparar
com o crescimento da população no mesmo período.
CAUSAS, INFORMAÇÕES E SOLUÇÕES
A elevada capacidade de adaptação e sobrevivência dos escorpiões, especialmente da espécie Tityus serrulatus, é o maior fator para a explosão no número de acidentes escorpiônicos. Sua capacidade de reproduzir mesmo sem se alimentar por 209 dias ou sobreviver até 4 horas submerso em água, como demonstrado por Pimenta R. (2019) e Ramires E. (2024) respectivamente, além da reprodução partenogenética, favorece seu estabelecimento e multiplicação em novas áreas. Esta seria uma primeira causa.
A estratégia de não usar no manejo integrado um saneante desinfestantes para o controle tem por objetivo evitar acidentes causados pela dispersão de escorpiões desalojados por tratamentos inadequados, mas por outro lado ao desaconselhar fortemente o emprego de controle químico, reduziu-se o número de tratamentos adequados e comprometeu a evolução e melhoria do manejo integrado utilizando produto saneante desinfestantes. Neste contexto, olhando a realidade dos números, pode-se afirmar que a captura rotineira de adultos não está sendo suficiente. É importante comentar que a orientação de evitar o produto saneante desinfestantes para o controle de escorpiões pode ter favorecido a dispersão dos escorpiões para novas áreas e certamente desestimulou a realização de pesquisas e estudos científicos com tratamentos químicos.
Outro ponto negativo gerado pela estratégia de “cancelar” o uso de produto saneante desinfestantes foi a promoção e divulgação de informações erradas sobre a efetividade dos produtos saneantes desinfestantes. É comum encontrarmos afirmações como "Inseticidas não matam escorpiões" e explicações como "Escorpiões fecham seus espiráculos ao detectar inseticidas no ambiente" ou "Escorpiões entram em estresse e aceleram a reprodução ao perceber inseticidas", bem como a recomendação de criar galinhas d’angola divulgados por técnicos, em entrevistas, notas técnicas oficiais e em profusão nas redes sociais por influenciadores sem expertise, enquanto o número de casos continua crescendo.
Não se pode afirmar que o uso exclusivo de produto saneante desinfestante seja a solução ou o melhor caminho a ser seguido para resolução do problema, pois não existe bala de prata ou solução simples no caso dos escorpiões.
No vácuo de pesquisas e trabalhos práticos bem feitos sobre o controle de escorpiões, surgem também informações e práticas erradas sobre o emprego dos saneantes desinfestantes. Apenas com protocolos validados para o controle de escorpião acredito que conseguiremos aumentar a efetividade das ações contra os escorpiões e consequente proteção da população.
O controle de escorpiões é muito diferente de controle de baratas e formigas e se mal executado pode ampliar os riscos de acidente para a população próxima aos ambientes tratados. Talvez se estivesse claro que isso pode gerar inclusive consequências penais, com a responsabilização de quem executa tratamentos inadequados por acidentes e mortes geradas, não teríamos tantas ofertas e publicidade desse tipo de tratamento.
O fato é que não se aprende como planejar e implantar um programa de controle de escorpiões somente na compra do produto ou em palestras promocionais sem profundidade, é preciso estudar, se aperfeiçoar e investir para só então oferecer esse tipo de controle através da capacitação sistemática.
Implantar um programa de controle de escorpiões requer ações pré e pós-tratamento, adequação do ambiente, somadas a execução de ações ao longo de períodos não inferiores a 12 meses para se conseguir resultados consistentes e proteção adequada.
Felizmente a equipe de Ministério da Saúde, especificamente do Núcleo de Animais Peçonhentos já esta trabalhando para aperfeiçoar o manual de controle de escorpiões e desenvolve estudos para ampliar as estratégias e abordagens para enfrentamento do problema.
Carlos V. Peçanha
Biólogo e Biomédico - Mestre em Saúde Pública
35 anos atuando no Segmento de Controle de Vetores e Pragas Urbanas.
ANÁLISE /EPA
O(s) período(s) disponível(eis) corresponde(m) aos anos de notificação dos casos.
Notas:
- Dados de 2023 atualizados em 16/04/2024 (sujeitos à revisão).
- Dados a partir de 2020 do Espírito Santo não estão disponíveis neste sistema pois são oriundos do Sistema de Informação e-SUS VS, em uso pelo estado desde aquele ano.
Dados disponibilizados no TABNET em maio de 2024.
DATA DE ATUALIZAÇÃO: 22/05/2025
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